Um POLISPhone é um instrumento que se
baseia na ideia de que os sons duma cidade (polis) podem ser usados para compor
e fazer música. Na verdade, qualquer espaço, seja uma cidade, uma floresta, um
jardim, uma casa ou até um espaço imaginário. O POLISphone é um fruto do mundo
tecnológico e portanto vive em computadores portáteis, tablets e smartphones,
ao contrário dos projectos anteriores de Super-Sonics que resultam da reciclagem
de objectos e sons de origens “analógica”. Na essência, o POLISphone providencia
uma forma simples e intuitiva de usar sons recolhidos na “paisagem sonora”. É
um instrumento digital que se baseia na ideia dum mapa (que é desenhado e
fotografado ou directamente produzido no computador) em que algumas áreas podem
ser postas a produzir som através do rato do computador. O POLISPhone é uma forma acessível de trabalhar a ideia de “cartografia
sonora”, uma prática muito actual que consiste na gravação áudio de “paisagens
sonoras” e a sua indexação a um mapa. Para nós significa o despertar do ouvido
para todos os sons que nos rodeiam e com os quais também se constrói música.
Nos tempos mais recentes, devido ao desenvolvimento e democratização da tecnologia,
têm surgido várias ideias sobre como trabalhar a cartografia sonora, entre as
quais os “mapas sonoros”. Estes são geralmente mapas “online” de grandes
cidades, como por exemplo Barcelona ou Londres, que acolhem
gravações áudio feitas por qualquer utilizador que quando carregadas para o
site, são alocadas ao local real de gravação. Assim, consultando este género de
mapas podemos literalmente ouvir o som de certas ruas, avenidas ou locais.
As
raízes do POLISphone começaram a
desenvolver-se na Digitópia, na Casa da Música do Porto (na altura com um
software chamado PORTOPhone, que, como o nome indica, tinha como base um
grafismo e uma recolha de sons da cidade do Porto). No projecto Opus Tutti a
ideia de compor e fazer música com a “paisagem sonora” foi muito importante e
mostrou-nos novas formas de escutar o que nos rodeia e de fazer música. A
“paisagem sonora” é a totalidade dos sons que rodeia uma pessoa ou
grupo de pessoas, num determinado local e num determinado momento, tenham eles origem
em fontes naturais não biológicas (a geofonia, como o vento, a chuva, a
trovoada), em fontes naturais de origem biológica não doméstica (a biofonia,
como os pássaros, os grilos, as cigarras, as rãs) e em fontes que se relacionam
com a actividade humana (a antropofonia, como o trânsito, as máquinas ou os
instrumentos musicais). O projecto que se apresenta agora no
Super-Sonics pretende não só potenciar a criação de recursos sonoros, mas
também a escuta atenta do que nos rodeia. O POLISphone
gosta da paisagem sonora e do meio envolvente, ouve e vislumbra nele várias
formas de fazer música. O POLISphone
é também uma forma de introduzir algumas ideias sobre temas como a gravação e
edição de som, a criação de mapas imaginários e a composição musical.
2) Escuta:
É
importante, ainda antes de gravar, conhecer e ouvir bem o local (ou locais)
onde se efectuarão as gravações. Recomenda-se a realização de “passeios” ou
“safaris” sonoros, isto é, expedições para procurar sons que se consideram
interessantes recolher. Devem ser feitos registos (diário de bordo) sobre o
local e dia/hora em que se ouviram esses sons, para que se possa organizar a
recolha. Deve ter-se em atenção as interferências de sons que se considerem
indesejáveis, bem como as de sons que possam ser considerados interessantes.
Isto é, pode haver interesse em gravar um som dum elemento específico da paisagem
sonora ou um conjunto de sons que ocorre simultaneamente.
Antes
de começar a gravar deve-se testar o gravador áudio e microfone, verificar
pilhas, “headphones”, protecções para o microfone contra o vento, máquina
fotográfica digital (por exemplo o “smartphone”) e preparar um diário de bordo
(um documento onde se possam registar observações sobre os sons escutados e gravados).
A
ideia é criar uma imagem que possa servir como o mapa que acolherá os sons que
foram preparados. Pode ser um desenho feito em papel ou ardósia que depois é
fotografado, pode ser uma fotografia do local, uma montagem/colagem de vários
materiais recolhidos no “safari”, misturada com desenhos e fotografias, um
desenho digital feito num programa de computador, uma combinação de elementos
gráficos feita num programa como o powerpoint ou qualquer combinação destes
elementos. O mapa pode ser concreto (representativo do local, permitindo
visualizar rapidamente os vários elementos que lhe deram origem) ou metafórico
ou abstracto (remetendo para informação subjectiva). A regra é que o mapa final
será um ficheiro de imagem digital, por exemplo jpeg, png ou gif.
8) Montagem do POLISphone
Clique aqui para descarregar instruções de montagem.
Como se faz:
Materiais e Ferramentas:
Gravadores de áudio, microfones e filtros
Podem
ser usados diversos tipos de gravadores e microfones, desde equipamentos de alta
qualidade especificamente dedicados à gravação (como os gravadores digitais) até
computadores portáteis, “tablets” ou “smartphones”. A maior parte dos
equipamentos têm microfones incorporados mas pode-se trabalhar com microfones
externos de vários tipos, entre os quais microfones binaurais (colocam-se nos
ouvidos e captam de forma muito semelhante à que ouvimos). Em muitas situações
pode ser importante usar um filtro para reduzir o ruído causado pelo vento,
comummente chamados de “windshields”. Existem soluções comerciais adaptadas aos
vários equipamentos, mas fazer um filtro é também uma opção acessível e fácil
de implementar (ver por exemplo). Sempre
que possível deve-se optar por gravar o som em formatos não comprimidos (por
exemplo wav, aiff) mas mp3 também serve.
É
importante ter uma noção exacta daquilo que o gravador está a gravar ou vai
gravar (por oposição a tudo o que os nossos ouvidos detectam) e por isso o uso
de “headphones” é altamente recomendado para o trabalho de campo e o trabalho
de edição. Existem vários modelos e preços no mercado.
Será
necessário produzir uma imagem que irá servir de mapa. Pode ser um desenho que
depois se fotografa, uma fotografia do espaço, uma montagem de vários elementos
gráficos abstractos feita no computador, etc.. Podem ser usadas máquinas
fotográficas digitais, as câmaras incorporadas nos computadores, “tablets” ou “smartphones”,
mas também pode ser um usado um programa de desenho digital. O POLISphone tem
uma ferramenta básica que permite fazer alguns desenhos.
Computador
O computador é necessário para preparar os sons que serão colocados no POLISphone, preparar a imagem que servirá de mapa e para construir (montar) e “correr” o POLISphone propriamente dito. Qualquer computador com acesso à internet (porque será necessário fazer o “download” de alguns programas) pode ser usado. Pode ter como sistema operativo Windows, Mac-OS ou até Linux.
O computador é necessário para preparar os sons que serão colocados no POLISphone, preparar a imagem que servirá de mapa e para construir (montar) e “correr” o POLISphone propriamente dito. Qualquer computador com acesso à internet (porque será necessário fazer o “download” de alguns programas) pode ser usado. Pode ter como sistema operativo Windows, Mac-OS ou até Linux.
É um
editor de som gratuito para se limar e aperfeiçoar os sons gravados que irão
habitar o POLISphone. Poder ser descarregado
em www.audacity.sourceforge.net.
Há muitas outras opções.
POLISphone no computador.
É a ferramenta onde se constrói o mapa, após se terem preparado os sons e as imagens.
Pode ser descarregada aqui.
É a ferramenta onde se constrói o mapa, após se terem preparado os sons e as imagens.
Pode ser descarregada aqui.
Procedimento:
Pré-procedimento:
1) Observar
o vídeo de instruções e apresentação do POLISphone aqui.
2) Escuta:

Recolha:
3) Preparação
da gravação de campo:

4) Recolha
de sons do meio ambiente e/ou recolha de sons específicos:
Deve
ser feita de forma criteriosa, isto é, baseada na escuta (preparatória e do
momento) e deve ter-se muito cuidado em optimizar o som que se grava (isto é,
garantir que o som que se regista tem as qualidades que se pretendem para a
construção do POLISphone. As ferramentas
digitais, como o Audacity, permitem resolver alguns problemas da gravação mas a
regra deve ser sempre a de se gravar os sons específicos ou combinações de sons
da forma mais próxima que se pretende reproduzir, até porque isso em si implica
uma atitude de escuta muito atenta, que é um dos objectivos a trabalhar.
5)
Edição dos sons gravados:
Os
sons gravados devem ser importados para o computador (a transferência faz-se de
diferentes formas consoante o equipamento que foi usado, desde usando o cartão
de dados onde forma gravados, transferindo através de USB ou bluetooth ou até
via áudio (ligando os equipamentos com um cabo áudio e gravando no computador).
Os sons devem ser trabalhados no Audacity (aplicar algum “polimento” básico,
por exemplo, seleccionar especificamente os excertos que têm interesse,
eliminando toda a restante informação, aplicar “fadein”, “fadeout” e
normalização. Deverão ser “exportados” sons com durações entre 10 segundo e 4
minutos (240 segundos) no formato wav e aif. Os ficheiros no formato mp3 podem
ter até 10 minutos. É importante dar designações aos ficheiros que permitam
rapidamente identificar os sons em causa (rapidamente se geram muitos ficheiros
e pode tornar-se confuso organizar os passos posteriores).
6)
Escolha de 8 sons para serem usados:
Os
sons que foram preparados devem ser ouvidos novamente e devem-se escolher os 8
sons com que se quer construir o POLISphone.
O POLISphone permite mudar rapidamente
os sons que se usam, mas é uma boa ideia começar com uma primeira selecção
criada a partir duma ideia daquilo que se pretende fazer.
7)
Criação da Imagem:

8) Montagem do POLISphone
A
ideia é reunir os sons e a imagem, criando assim um POLISphone original, que pode no final ser gravado, ficando para
uso posterior em composição e “performance”.
a) Abrir a aplicação POLISphone;
b) Arrastar o mapa (ficheiro de imagem) para o icon respectivo;
c) Definir os “locais sonoros”, arrastando os círculos para os locais desejados;
d) Arrastar os sons que se vão usar no POLISphone para os “locais sonoros”.
a) Abrir a aplicação POLISphone;
b) Arrastar o mapa (ficheiro de imagem) para o icon respectivo;
c) Definir os “locais sonoros”, arrastando os círculos para os locais desejados;
d) Arrastar os sons que se vão usar no POLISphone para os “locais sonoros”.
Et
voilà! POLISphone pronto.
Como se toca:
Mexendo
o rato em círculo nos locais sonoros, fará o POLISphone cantar.
Re-visitar
e relembrar o vídeo de instruções aqui.
E
agora é só tocar, ouvir e interagir com os sons do POLISphone.
Algumas composições originais:
Protocolo
Este é um esquema para imprimir e ter
ao pé de si quando estiver a fazer um POLISPhone.